Velhos Tempos... Belos Dias! Histórias de um ilustre morador de Joaçaba - Raul Pereira

Notícia postada originalmente em agosto de 2015No próximo dia 25, terça-feira, Joaçaba completará 98 anos.

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O sorriso de Seu Pereira em um encontro recente. Exemplo de vida!
O sorriso de Seu Pereira em um encontro recente. Exemplo de vida!

Notícia postada originalmente em agosto de 2015 No próximo dia 25, terça-feira, Joaçaba completará 98 anos. Um pouco depois, em outubro, um nobre morador deste município fará 99 anos. Nada melhor do que buscarmos nas histórias de um quase centenário as lembranças que podem nos fazer conhecer um pouco mais desta cidade que tão bem acolhe quem por aqui chega – A quem vir morar comigo dou carinho e dou abrigo! Seu Raul Anastácio Pereira pode melhor do que ninguém afirmar que este trecho do hino de Joaçaba é de fato verdadeiro. No dia 29 de outubro de 1935, pouco depois de completar  19 anos, Seu Pereira, como é carinhosamente chamado, apareceu por aqui, quando Joaçaba era ainda Cruzeiro do Sul. Em 2011, Seu Pereira publicou o livro Velhos Tempos... Belos Dias! Nele, relembra a trajetória de sua vida, que se funde com a história de Joaçaba. Com grande honra, o Portal Éder Luiz, graças generosidade de Seu Pereira e da família, em especial o amigo Antonio Carlos "Bolinha" Pereira, passará a partir de hoje a publicar trechos da obra. Em muitas partes o autor citará o livro, optamos por deixar estas citações para não modificar o sentido dos textos. É uma forma que encontramos para homenagear Joaçaba e também seu ilustre morador, que pode ser encontrado para uma bela conversa pelas ruas do Centro da cidade. Falar com Seu pereira e quase que o mesmo que bater um papo com esta acolhedora cidade e conhecer seu passado e personagens. Então, seja bem vindo Seu Pereira e boa prosa! Apresentação Dizem que uma fotografia vale por mil palavras, então coloquei quase mil fotografias neste livro, para contar um pouco de minha trajetória. Os filhos achavam que eu deveria contar algumas passagens de minha vida, que foi um pouco sofrida, mas sempre com fé em Deus, e pela família que tenho valeu a pena, hoje sou uma pessoa feliz. Eu e minha amada esposa Aniela lutamos bastante para criar os filhos, hoje estou com 94 anos e ela nos deixou com muita saudade, pouco antes de completar 92. Nasci em 21/10/1916, em Medeiros, distrito de Barra Velha, litoral do estado. Por não gostar de trabalhar na roça fugi de casa, aos 19 anos. Sai numa noite de sábado, e caminhei até Joinville – uns 60 km, que fiz a pé durante a madrugada. Fui de trem a Porto União, onde moravam meus tios, e depois fui com eles, novamente de trem, até Joaçaba. Cheguei em Joaçaba em 1935, em 1938 viajei no navio ``Carlos Hoepcke``, de São Francisco do Sul para Santos, onde trabalhei como garçom no restaurante do sr. Adelino Coimbra, um português, que fazia testes de honestidade com os funcionários – ele esquecia carteiras cheias de dinheiro nos lugares por onde a gente passava, pra ver se devolvia. Eu não sabia disso, e entreguei a ele a carteira achando que tivesse sido perdida por um freguês. Ele me cumprimentou e manteve no emprego. Eu sempre quis conhecer a Cidade Maravilhosa, em 1940 embarquei no navio “Aspirante Nascimento” e fui para o Rio de Janeiro, onde trabalhei como ajudante de jardineiro em São Silvestre, perto do Corcovado, depois fui porteiro do Edificio Correia Dutra, perto do Palácio do Catete. Conheci artistas em começo de carreira, como Angela Maria, Carlos Galhardo e outros que íamos assistir na Rádio Nacional. Depois trabalhei como garçom em um bar na Rua do Ouvidor, e fui cobrador de bondes na Light. Em 1942 voltei para Joaçaba, foram 3 dias viajando de trem, e casei com Aniela Szubert, em 1943 - a Igreja era no mesmo local onde hoje está o Hospital Santa Teresinha. Tivemos sete filhos: Ana Maria, Carlos José, Terezinha Odete, Antonio Carlos, Raul Fernando, Maria Angelina, Maria José, que nos deram 23 netos e 11 bisnetos. Minha atuação no comércio: de 1942 até 1963: Livraria e Tipografia Santa Terezinha de 1949 a 1951 responsável pelo jornal Joaçaba Jornal e pelo Jornal de Pato Branco (1952 em diante) 1963 a 1980: Lanchonete, Bar e Café Itajaí em Joaçaba Deixei minha colaboração com a comunidade que me acolheu, pois fui sócio fundador do Hospital Santa Terezinha, do Clube 10 de Maio, do Cruzeiro Atlético Clube, da LEOC (Liga Esportiva Oeste Catarinense), e do Clube da Amizade – todos em Joaçaba. Mas orgulho mesmo eu tenho é das amizades que construí nesses 75 anos em que aqui estou. O autor. Minha história Em 1916, na localidade de Medeiros, município de Parati, hoje Barra Velha, nascia um menino, batizado com o nome de Raul Anastácio Pereira. Meu pai, Anastácio João Pereira, era natural da cidade de Camboriú, e veio ainda solteiro para Medeiros uma pequena vila onde ele instalou uma serraria, que ainda existe. Ele conheceu minha mãe, Maria Alexandrina, que era órfã de pai e mãe e fora criada pelos tios José Bernardinho Xavier e Ana Bernardinho. Quando meus pais casaram ela tinha apenas dezesseis anos. Eles tiveram 12 (doze) filhos: Albertina (Tina), Aristides, Artur (Tuca), Raul (Lula), Erotides (Dodoca), Maria (Quica), Cecilia, João (JANGA), Irineu (Neu), Iracema (Cema), Iraci (Dida) e Osni. Os meus pais eram agricultores, nós tínhamos uma serraria, engenho de farinha, engenho de açúcar e plantação de arroz, Medeiros era uma colônia muito forte, com plantação de arroz, cana e mandioca. Para nos divertirmos havia muita coisa: o tradicional Terno de Reis e a brincadeira do Boi-de-Mamão, além das corridas de cavalos, briga de galos e a farra do boi; nos sábados e domingos, bailes e domingueiras, mais a tradicional Festa de São Sebastião, o Padroeiro local. Numa dessas brincadeiras na Escola, as pessoas se fantasiavam de bicho, tinha a Bernunça, o Barão, Urso, Boi, Cavalinho, etc. Enquanto o ginete fazia apresentação do Urso, o Boizinho ficava fora da casa, e os moleques pegaram cocô de porco e passaram na parte preta da fantasia do boi, e quando o Cavalinho, em versos, convidou o Boi a entrar, o mau cheiro tomou conta do salão, foi horrível, a platéia gritava – “tira o boi que ele está cagado”, foi a maior confusão. A brincadeira do Boi-de-Mamão tinha o João Cipriano como grande incentivador, e meu principal companheiro de aprontadas naquele tempo era um amigo, conhecido como “Budeu”. A gente também passava o tempo jogando baralho na casa do Joaquim Teixeira, ao lado do pavilhão da Comunidade, com o Guilherme Fontes, o Zé Godói, o Mané e o Paulino, que costumava apagar a luz e pegar o dinheiro de cima da mesa. Eu tinha um galo que era bom de briga, mas era cego de uma vista, e o prefeito Silveira provocou para uma briga de galos, eu disse: “Você parece louco!” Ele não gostou de minha resposta, perguntou quem era louco e puxou uma faca. Por sorte meu irmão Aristides pulou em minha defesa e um outro amigo, o Gabriel, separou os brigões. Os estudos Nós íamos à Escola, que ficava uns dois quilômetros e meio distante de casa. Eu e o José d’Aquino apanhávamos bastante de régua, levávamos puxão de orelha até sair sangue e deixar ferida, além de ficar ajoelhados em cima de grãos de milho por umas duas horas. Uma vez um colega, Manoel Jacinto, falou para a Professora que eu tinha tirado o milho de debaixo do joelho, ela pegou a régua e me bateu nas costas. Na saída fui tirar satisfação com o linguarudo e o joguei numa valeta d’água, ele ficou todo sujo e como minha casa ficava na mesma rua, foi lá e contou tudo pro meu pai. Os colegas sentaram nas toras da Serraria esperando eu chegar e não deu outra, entrei na cinta – apanhar de cinta não era novidade, meu pai batia muito na gente, tentava nos educar na base da surra. Um dia falei pra minha irmã que eu ainda iria fugir de casa, ela me disse que eu ia passar fome, mas graças a Deus isso não aconteceu. Éramos três irmãos que freqüentávamos a escola, e algumas vezes eu não ia com eles, pois no trajeto tinha um rio e eu ficava debaixo da ponte, tomando banho com os colegas. Só não podia molhar a cabeça, senão meus pais descobririam que eu estava faltando aula e o pau iria comer. A minha irmã mais velha, a Tina, que cuidava de nós, não contava pros meus pais porque ela tinha um namoradinho e aí nós contaríamos dela ... bons tempos, que não voltam nunca mais. Mais tarde eu vi a falta que me fizeram os estudos... Perdi meu pai em 1957, e as comunicações eram muito precárias na época. O Dequinha Ferreira foi de bicicleta até Piçarras passar um telegrama para me avisar, então fui de avião até Curitiba e lá peguei um Táxi Aéreo para ir a Medeiros, o aviãozinho sobrevoou a casa para servir de aviso e aterrisou em Itajaí, ali peguei um táxi e ainda cheguei em tempo para acompanhar o enterro. Meu pai ajudou muito a Comunidade de Medeiros, foi ele quem doou o terreno e as madeiras para construção da Igreja, também doou o terreno para o Cemitério local, além do terreno do campo de futebol, onde existe uma placa com os dizeres: “Prefeitura Municipal de Barra Velha – Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esporte – ‘O esporte espelhando a vida’ – Centro Esportivo e Recreativo Anastácio João Pereira”. Medeiros ganhou asfalto no acesso à BR, e o trecho recebeu o nome de meu pai, uma bela homenagem para perpetuar o nome da Família Pereira. Amanhã tem mais... Veja abaixo os links das demais memórias publicadas: Velhos Tempos… Belos Dias! Segunda Parte Velhos Tempos… Belos Dias! Terceira Parte  Velhos Tempos… Belos Dias! Terceira Parte Velhos Tempos… Belos Dias! Quarta Parte Velhos Tempos… Belos Dias! Quinta Parte

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