Velhos Tempos… Belos Dias! Quarta Parte

Velhos Tempos… Belos Dias! Quarta Parte

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Velhos Tempos… Belos Dias! Quarta Parte

O Portal Éder Luiz está publicando neste mês em que Joaçaba completa 98 anos trechos do livro Velhos Tempos… Belos Dias!, de autoria de Raul Pereira. É uma forma de resgatar histórias do município através de um de seus mais antigos moradores, Raul Anastácio Pereira completará 99 anos em outubro.

Hoje será publicada a terceira parte destas memórias. Para ler as demais clique aqui! Joaçaba, minha terra por adoção Valeu a pena eu ter caminhado aqueles sessenta e dois quilômetros numa noite. Conheci a Angelina e em 1943, no dia 31 do mês de julho, casamos numa igrejinha de madeira localizada onde hoje é o Hospital Santa Teresinha. Ela viera de Balisa, distrito de Gaurama (RS) e estava morando na casa de minha tia Quiquita.   Acabei ficando com a Tipografia Santa Terezinha. Em 1943 houve um incêndio na funilaria Zanardo e o fogo se alastrou até a nossa tipografia, e a oficina e a nossa residência foram destruídas pelo fogo, não conseguimos salvar nada. Mandei reformar as máquinas na oficina Conserto Mecânica, da família Schneider. A concorrência achou que tinha se livrado de nós mas fomos pagando aos poucos e conseguimos vencer. O Engenheiro e Construtor Elói Couto, genro do Sr. Angelo Scarpeta, construiu uma nova casa, a mesma em que moro até hoje, cobrou doze contos de réis. Vencemos com muito sacrifício. Nas décadas de 1940 e 1950 os incêndios eram muito comuns em Joaçaba, as casas eram todas de madeira e o povo ajudava a apagar o fogo, cada um trazia um balde. Uma vez pegou fogo numa fábrica de sabão, na rua Felipe Schmidt e estávamos jogando água quando o dono veio correndo e pediu pra gente parar de ajudar porque ele queria receber o seguro. Na rua Francisco Lindner, onde hoje é o mercado Colméia Center, pegou fogo a marcenaria Francio e como as construções eram muito próximas, doze casas foram consumidas pelas labaredas. Em outro incêndio numa loja de móveis fomos salvar o estoque da alfaiataria do João Radomanski, que ficava ao lado. Eu não vi a escada que conduzia ao porão, cai e desmaiei. Os amigos me salvaram e fui acordar em casa, ao meu lado estava Roberto Pedrini que ficou cuidando de mim. Os hotéis tinham cordas nos quartos e em caso de incêndio o pessoal amarrava a corda na cama e pulava. O professor Vanderlei ao saltar errou o pulo e quebrou uma perna. Quando eu cheguei Joaçaba já tinha um jornal, “O Cruzeiro”, meu tio Osvaldo era diretor e gerente desse semanário que circulou de 1933 a 1936. Em 1940 começou a circular “A Tribuna”, de propriedade do Sr. Genézio Paz. Em 1946 o Dr. Manoel Carmona Gallego e o professor Antonio Lúcio publicaram o “Correio d’Oeste”. Em 1º. de maio de 1949 circulou o primeiro número do “Joaçaba Jornal”, que estampava logo após o título: “bi-semanário do Oéste Catarinense”, e o nome do Diretor-Proprietário: Raul A. Pereira. Meditando sobre isso, eu concluo que a vida foi boa demais com quem “gazeava” aulas para nadar pelado no rio. Em 1957 fui premiado com um bilhete da Loteria de Santa Catarina, “tirei a sorte grande” com o número 4658. Comprei uma máquina impressora automática HEIDELBERG, importada da Alemanha, foi a primeira máquina desse tipo no Oeste catarinense. Graças ao dinheiro da loteria, conhecida como “Catarina”, demos uma festa pra grande número de amigos. O nosso inesquecível amigo Walter Pereira de Mendonça, o Vadico, quando solteiro morava no Hotel do Comércio e conseguia emprestada a jardineira, que conduzia as malas do Correio que vinham de trem, e aos sábados, quando tinha baile no Salão Dalanora, no bairro Flor da Serra, fomos diversas vezes, sob o comando de nosso amigo Vadico. Às vezes o Maneco Pedroti transferia as novilhas de Joaçaba para Herval d’Oeste e passava por dentro da cidade: as novilhas se espalhavam pelo centro, era aquela correria das mulheres, muita gritaria, e no fim era divertido, movimentava a cidade e parava o trânsito. Momentos difíceis Nos tempos da Tipografia eu sempre viajava, cobrando contas e pegando novos pedidos: ia até Porto União, Marcelino Ramos, fazia a região de Concórdia, Chapecó, Lages, pegando pedidos de impressos e cobrando contas. Duas ou três vezes por ano eu ia a São Paulo comprar mercadorias para a Gráfica e a Livraria. Em 1965 fui a Águas de Lindóia (SP) participar de uma Exposição de Artes Gráficas, havia representantes de todas as partes do país, e na volta parei em São Paulo para fazer compras. Eu estava caminhando na Avenida Ipiranga, região central da Capital paulista, e fui abordado por dois guardas, que me pediram para abrir a pasta e encontraram uma faquinha que eu levara na viagem, me colocaram dentro do carro da Polícia e ficaram num bar na avenida, tomando cachaça. Depois, mandaram o motorista ver quanto dinheiro eu daria, ofereci dez cruzeiros e eles não aceitaram. Ao escurecer, saíram em direção à Barra Funda, as ruas todas no escuro, o carro corria a toda velocidade e os policiais davam tiros de revólver para o alto e me diziam que há muito tempo me procuravam, achei que tinham me confundido com algum bandido e procurei manter a calma. Lá fora tinha um bar, só uma lâmpada, no meio da escuridão dois casais estavam namorando e os policiais gritaram para não correrem senão atirariam. As moças correram e os rapazes foram presos, mandaram eu descer e me deram um tapa no traseiro, então disseram: “entra aí, seu bandido.” Fomos pra gaiola na parte de trás da viatura, em dez minutos pegaram mais gente, quando chegamos na Brigadeiro Luiz Antonio de madrugada eu tinha mais de vinte “companheiros” comigo. O sujeito tirou um revólver da cintura, mandou todos entrarem em fila e procurei ficar no meio. Ele disse: “vem aqui, seu bandido”, me botou na frente da fila e fomos em direção ao prédio. O ascensorista era um morenão, que me disse que os dois secretas eram novos e queriam mostrar serviço, fomos todos prestar depoimento. O delegado era um tal de Dr. José, e perguntei por qual motivo tinha sido preso e chamado de bandido, expliquei que eu vinha de uma exposição de máquinas gráficas em Águas de Lindóia, e que portava uma faquinha porque lá no Sul quando se vai a um churrasco a gente leva uma faca, se era por esse motivo que estavam me chamando de bandido. Mostrei uns cartões da Exposição e um cartão de visita do Governador Ademar de Barros, então me dispensaram sem prestar depoimento e pude sair de lá. Já eram cinco da manhã, e na rua ainda vi uma briga num bar, e andei quase um quilometro para voltar. Quando cheguei no Hotel era dia claro, o porteiro me perguntou se aproveitei bem a noite, falei a ele o que me acontecera. Eram nove horas quando levantei pro café da manhã e um repórter do jornal O Globo me chamou, ele já sabia do ocorrido e queria fazer uma reportagem com fotos, mas eu recusei, pois iria ficar mais dois dias em São Paulo e tive receio de ser identificado e apanhar da polícia. Amizade virou Clube No ano de 1959 nós fundamos o Clube da Amizade, a pedido de alguns amigos cujas esposas não os deixavam sair à noite. Como dizem que para tudo existe uma saída assim eles tinham motivo, ou desculpa, para sair. Alguns, que não eram sócios, me pediam para ser convidados, esses faziam parte do grupo daqueles em quem as mulheres mandavam... Fui Presidente duas vezes e nosso Clube era beneficente, fizemos diversas campanhas, para auxiliar famílias carentes. No princípio nossas reuniões com jantar eram feitas a cada quinze dias, em restaurantes diferentes em Joaçaba e em Herval d’Oeste, e de vez em quando fazíamos reuniões festivas, com a presença das esposas dos sócios. Um jantar que deixou marcas aconteceu no Clube Hervalense, um costelão preparado pela família Volpato, ecônoma daquele tradicional Clube; outro que também era preferido pelos sócios era o restaurante do Aeroporto, dona Gema Ratti preparava sua famosa lazanha. Num dos jantares no Aeroporto convidei quatro fiscais do INSS, e na volta, como era no caminho, a maioria foi visitar as “comadres”. O acampamento da Construtora INEC, responsável pelo asfalto, ficava próximo, e alguns maus elementos foram lá armados e quase meus convidados foram baleados, foi uma correria, gente se jogando em baixo das mesas. Reproduzo matéria publicada nos jornais locais em julho de 1999: “Aos doze dias do mês de junho de 1959 nascia o Clube da Amizade, presenciado naquela oportunidade pelo Sr. Raul Pereira, homenageado por ocasião da posse da nova diretoria e da comemoração do quadragésimo aniversário do clube com a entrega de uma placa de prata e um belo discurso do responsável pelo protocolo, Jaire Almeida. “Criamos o Clube da Amizade por uma iniciativa de alguns amigos”, lembra o “seu” Raul, “e comigo estavam naquela ocasião Ivo Trevisan, Antonio Marcon, Zigmunt “Zyg” Wesoloski, Walter “Vadico” Pereira de Mendonça; com o tempo, outros se uniram ao grupo, como Luiz Szubert, Walter Brune Filho, Paulino Kostycha, Cezario Zampieri, Antonio Victorino Sganzerla, Flavio Luiz “Badu” Tesser, Roldão Maestri e tantos outros”. Um dia resolveram comprar uma sede própria, houve muitos melhoramentos, mas também problemas com ecônomos. O Clube da Amizade funcionava bem melhor antes de termos a sede própria, terminou o Clube e acabaram vendendo a sede. Hoje, dos fundadores, só restamos eu e o Ivo Trevisan: os outros já viajaram e esqueceram de voltar, não sei se lá eles participam de algum clube.

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