Coluna Brinda Brasil

Por Rodrigo Leitão São várias as razões para que uma garrafa de vinho tenha um fundo pontiagudo para dentro.

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Por Rodrigo Leitão

São várias as razões para que uma garrafa de vinho tenha um fundo pontiagudo para dentro. Mercadologicamente, essa concavidade no fundo das garrafas é associada à qualidade do vinho. Isso tem um fundo de verdade, porque o produtor que se preocupa com o consumidor manda fazer essas garrafas para evitar que as borras e os cristais que se formam no vinho caem na taça de quem for bebê-lo (mas atenção, porque existem produtores que continuam não filtrando o vinho e aí vai ter borra de qualquer jeito). Esse formato de garrafa tem como uma de suas funções decantar o vinho antes do consumo e ainda na fase de armazenamento. Porque isso ocorre? Grandes produtores de vinhos, que fazem uma bebida mais complexa, com potencial de guarda, aqueles vinhos mais caros, evitam o processo de filtragem e engarrafam o vinho com alguns pequenos sedimentos, acreditando que isso vá proporcionar mais qualidade ao produto, mais sabor e maior poder de evolução para a bebida. Mas para que isso não se perca, eles mandam confeccionar essa garrafa de um forma que quando você for servir o vinho, essas borras e cristais fiquem presas no fundo. Esse abaulamento exerce uma força gravitacional que segura as impurezas lá em baixo. Essa seria a explicação técnica mais convincente, só que não há consenso sobre isso. Mas o tamanho do buraco não influencia nesse caso. Encontramos grandes vinhos com maior ou menor concavidade no fundo da garrafa e isso independe da qualidade deles. O que vai mandar nesse caso, e aí vem outra teoria, é o peso da garrafa. Antigamente, os grandes produtores associavam grandes vidraceiros às suas marcas e o design das garrafas passou a integrar o preço do vinho, coisa de boutique mesmo. Valor agregado, etc. Estamos falando de uma indústria né! Ainda hoje você encontra garrafas bem pesadas. Existe um vinho na Argentina, o Cobos, cuja garrafa pesa um 1,6 kg e o buraco é bem maior que o das outras. Nesse caso, a explicação é para ajudar a segurar na hora de servir. Antigamente todas as garrafas eram muito pesadas, hoje, usa-se materiais mais leves. Mas o layout da garrafa poderá também influir na sua espessura e, consequentemente, no peso, pois todas as garrafas padrão de vinhos devem abrigar 750 ml da bebida. No caso dos champanhes, esse furo no fundo tinha duas razões, ajudar na hora de movimentar a garrafa durante a espera da segunda fermentação (no caso da produção elo método tradicional ou champenoise) e para exercer uma força gravitacional que permitesse ao gás carbônico correr pelas laterais da garrafa, favorecendo a formação de perlage, que são aquelas bolhinhas do espumante (e quanto mais finas mais qualidade expressam). Um vinho com buraco no fundo da garrafa não quer dizer, no entanto, que seja melhor que outro de fundo liso. Os vinhos jovens, o crianza, os vinhos para consumo imediato e que nem por isso são ruins, geralmente, na maioria das vezes, tem fundo de garrafa liso. Porque são recepientes feitos com material mais leve e não vão precisar passar por decantação. Vinho branco, geralmente, tem fundo de garrafa liso. E vinhos jovens (para consumo imediato) também. Existe ainda uma outra explicação técnica de que a concavidade facilita o equilíbrio da garrafa sobre a mesa. Como no início desse processo as garrafas eram feitas artesanalmente, não havia simetria adequada e alguns produtores passaram a criar esse abaulamento, muito mais por observação dos vidraceiros que dos enólogos. Há até uma lenda sobre isso e que tem a ver com a política. Os servos dos nobres ou empregados dos poderosos usavam esse formato de garrafa para apontar ao anfitrião (balançando a garrafa, com sinais, ao servir o vinho), se o convidado era confiável ou não. Essa discussão sobre as garrafas é longa. São muitos os tipos de recipientes, variam de acordo com as regiões produtoras, mas 11 modelos de garrafas são mais usados, sendo que 4 são os mais tradicionais: Bordalesa – Usada na região francesa de Bordeaux, que é aquela garrafa com o pescoço mais alongado. É a chamada garrafa tradicional de vinho tinto. Borgonha – É original da região francesa da Borgonha, com pescoço gradualmente abrindo para o bojo da garrafa. É aquele formato muito usado nos chardonnays, mais barrigudinhas. Renana – É a garrafa alemã, chamada de renana porque é da região do Rio Reno. Elas são levemente arredondadas, mas mais longas que as da Borgonha. Champanhe – São garrafas mais pesadas e maiores, conhecidas por guardar a grande bebida francesa. E copiada por todos os produtores de espumantes do mundo (foto). CURISOSIDADE: A maioria das garrafas é escura para proteger o vinho dos raios solares. As de vinho branco deveriam também ser assim, mas por razões mercadológicas, o tinto vem em garrafa escura e o branco em garrafa clara. Só que antes não era assim. Tudo vinha em garrafa escura. Foi a partir dos anos 1920 que começaram a fazer o diferencial. Os gregos e os romanos armazenavam vinho em vasilhames de couro, barro e cerâmica. Eles davam tanta importância ao vinho que tinham até deuses para eles, Dionísio na Grécia e Baco, em Roma. Mas sabe que para os padrões de hoje esse vinho era intragável? Para conservar a bebida eles misturavam conservantes como a resina de pinho. No Oriente Médio, na época de Jesus, o vinho era decantado com água do mar morto, para ficar mais palatável e nas três regiões, misturava-se água, mel e especiarias para servir a bebida. UM POUCO DE HISTÓRIA: Antigamente se guardava o vinho em pipas de barro, em cabaças. Foram os fenícios que descobriram o vidro, cerca de 3 mil anos antes de Cristo. E há evidências de fabricação de vidro no Egito Antigo, por volta de 1.500 antes de Cristo. Mas quem deu impulso a essa indústria - e depois acabou com ela - foi o Império Romano. Só depois que Constantino se converteu ao cristianismo é que o vinho e o vidro voltaram para a Europa. Mas levou muito tempo até que o vidro fosse levado a cabo como matéria prima de uso diário, como utensílio doméstico. Isso começou mesmo em Veneza, no século 16. E só cem anos depois é que se começou, primeiro na Itália, a se armazenar vinho em garrafa de vidro. No entanto, o mundo só passou a consumir vinho engarrafado no início do século passado, quando foi feita a primeira produção industrial em série de garrafas de vinho, em 1903.

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