Com 5 tornados em menos de 1 mês, CEO da ONU Brasil diz que cenário pode piorar em SC

"Cinco é uma coisa inédita. Estamos discutindo é a nossa sobrevivência", diz ele.

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Foto: Divulgação/MetSul/ND
Foto: Divulgação/MetSul/ND

Santa Catarina é afetada pelos eventos climáticos extremos. Só para se ter uma ideia, segundo a Defesa Civil do Estado, somente em novembro foram cinco tornados registrados: Cunha Porã (03/11), Tubarão (11/11), Itá (16/11), Sombrio e Urupema (18/11).

Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, diz que a tendência é que a situação piore. O executivo deu uma entrevista exclusiva para o portal ND+ durante o primeiro dia do ESG Summit Brazil, que começou na manhã desta terça-feira (21), em Florianópolis. Pereira ressalta que o Estado, e todo o mundo, passam por previsões preocupantes.

“A gente tinha um ou outro tornado, mas cinco é uma coisa inédita. Portanto, não estamos mais falando em mitigação à mudanças climáticas ou eventos extremos, eles já estão acontecendo. O que estamos discutindo é a nossa sobrevivência e adaptação em meio à eles”, ressalta.

Ao lado de Pereira estava Marcelo Gasparino, VP do Conselho de Administração da VALE, que concordou com o executivo. Segundo Gasperino as mudanças climáticas passam também por pensamentos sobre a importância das mudanças de matriz energéticas.

“São as grandes empresas que têm capacidade econômica de viabilizar alguns projetos que são disruptivos no sentido de fazer a transição de uma matriz hoje mundial fóssil para uma matriz energética limpa. Hoje, o Brasil tem um grande potencial”, explica.

Segundo o administrador, a energia brasileira é essencialmente limpa, o que é imprescindível ao pensarmos em mudanças climáticas. Isto porque a matriz da energética brasileira vem 80% da geração hidrelétrica, eólica ou solar.

“A gente tem ainda alguma coisa de geração a gás mas nós não temos mais geração a carvão. Isso nos mostra que estamos anos luz à frente de muitos países que foram expostos após a guerra na Ucrânia por conta do uso de combustíveis fósseis”, explica.

As soluções e problemas apresentados pelos executivos, fazem parte da ideia do evento, que busca dar soluções para um futuro mais verde e a criação de empresas mais sustentáveis.

O que é ESG?

ESG refere-se a critérios ambientais, sociais e de governança usados para avaliar o desempenho sustentável das empresas. O “E” aborda práticas ambientais, o “S” trata de questões sociais, e o “G” refere-se à governança corporativa.

Investidores utilizam esses critérios para avaliar a responsabilidade e sustentabilidade de uma empresa, além de considerações financeiras. Empresas com boas práticas ESG buscam equilibrar aspectos financeiros com responsabilidade social e ambiental. Essa abordagem tornou-se crucial à medida que a conscientização sobre questões ambientais e sociais cresce.

Brasil pode mais, mas faz muito

Carlos Ferreirinha, fundador da MCF Consultoria e ex-Presidente Louis Vuitton Brasil, foi o terceiro painelista do dia. Com o tema “ESG como pauta protagonista na gestão de marcas”, o gigante apresentou alguns problemas e soluções para o mercado brasileiro. “O Brasil é um grande país de commodities. Somos o maior produtor de café, de laranja e de lingerie e não temos uma marca com reconhecimento internacional”, pontua.

Segundo o profissional, marcas como Havaianas, Farm e Granado, por exemplo, até possuem mercado fora do país, porém é no Brasil onde seu maior público é encontrado. “Isso parece inacreditável para quem está de fora, mas temos este potencial”, conta. O executivo terminou sua palestra fazendo um grande apontamento:

“As empresas precisam ser mais gentis com as comunidades, olhar para as pautas de ESG e para o entorno dos seus negócios. Precisamos cuidar das pessoas que trabalham com a gente para que elas tenham ambientes melhores. Hoje, os funcionários estão explodindo emocionalmente”, pontua.

Descarbonização

O evento tratou ainda de um importante fenômeno, a descarbonização. Ou seja, a redução de carbono dentro de pequenas, médias e grandes empresas. Para este painel foram convidados Alexandre Navarro – VP Fundação Mangabeira, Pedro Saad – Embaixador da ODS 17 do Pacto Global da ONU, Glauco José Côrte – Vice-Presidente da CNI, Eduardo Porciuncula – Head da Verdera / Votorantim Cimentos, Felipe Tavares – Economista Chefe da CNC, e a mediadora Naiara Augusto – Risco e Compliance SCGÁS.

Na discussão, ficou claro que a descarbonização é o processo-chave na luta contra as mudanças climáticas. Isso significa, na prática, que é preciso mudar para fontes de energia mais limpas, como solar e eólica, e adotar práticas que removam ou capturem o carbono da atmosfera.

Setores-chave, como transporte, energia e indústria, estão cada vez mais focados em estratégias de descarbonização para cumprir metas globais de redução de emissões, como as estabelecidas no Acordo de Paris. Essas ações são cruciais para um futuro sustentável e para enfrentar os desafios climáticos que o mundo enfrenta.

O economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, disse que a indústria está intimamente ligada com as mudanças climáticas. “Imaginem, por exemplo, que as ondas de calor que chegaram em novembro chegando em agosto. Como as indústrias de ar-condicionado vão se preparar para toda essa demanda?”, questiona.

Já Alexandre Navarro, VP Fundação Mangabeira, destacou a posição catarinense em meio aos impactos climáticos. “Santa Catarina sofre recorrentemente com as mudanças climáticas. E isso vai piorar. Para Florianópolis e todas as cidades litorâneas precisamos pensar também que o nível do mar vai subir. Ao crescer 1.5m é importante lembrar que não vai adiantar engordar praias, precisamos de novas tecnologias para fazer isso. Essa crise existe em todo o país”, conta.

Para Glauco José Côrte – Vice-Presidente da CNI, o Brasil tem uma posição única no mundo e se diz, mesmo com as mudanças, seguro com o futuro do Brasil.

“Temos uma posição invejável por conta da nossa floresta. O Brasil vai investir nisso. Vamos continuar mantendo 48% de matriz renovável. Temos 12% da água doce do mundo. Temos 20% da biodiversidade do mundo. Precisamos de uma mobilização mais intensa do setor privado e do setor público”, diz.

Fonte:

ND+

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