Cultura em Cena: Ângelo Rodrigues - Memes Draw e a viralização do humor

Na coluna desta semana, conheça mais do artista que tem provocado risos por todo o Brasil.

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Cultura em Cena: Ângelo Rodrigues - Memes Draw e a viralização do humor

Na internet, a expressão “meme” é usada para se referir a qualquer informação que viralize, adquirindo uma grande popularidade na rede.

Memes Draw, a página de humor criada no Instagram e no Facebook pelo artista Ângelo Rodrigues tem provocado o riso numa legião enorme de fãs espalhados por todo o Brasil. Atualmente conta com mais de 163.000 seguidores nas duas redes sociais. Um número bem expressivo de fãs que todos os dias curtem e compartilham os trocadilhos criados pelo humorista.

O início deste sucesso remonta o ano de 2016, quando Rodrigues começou a seguir a página Memes Paint, que abria espaço para publicações de desenhos criados por seus seguidores, desde que previamente aprovados pelos responsáveis, e durante o carnaval fez um trocadilho com a escola de samba paulistana Acadêmicos do Tatuapé. A imagem foi aprovada e publicada e acabou viralizando, provocando sua imaginação a desenvolver um novo trabalho que seguiu o mesmo caminho do primeiro, e nos dias que se sucederam houve uma sequência de criações e viralizações que evidenciaram o grande potencial que suas composições tinham perante o público, resultando em um convite para integrar o grupo que comandava a página. Convite aceito, acabou desenvolvendo paralelamente sua própria página no Instagram e posteriormente também no Facebook.

No primeiro mês, a página no Instagram atingiu 5.000 seguidores, em 3 meses triplicou o número, e em menos de um ano chegou a 50.000 seguidores.

“Vi que aquilo lá não era uma coisa simples assim, simplesmente desenho, tava mudando o humor das pessoas, tava acrescentando algo para elas naquele dia, naquela pausa do meio-dia, da tarde, na noite. Aquilo virou um compromisso diário que eu tinha com este público. Comecei a desenhar todos os dias, mais de uma vez por dia, duas, três vezes. Mantenho esta média até hoje, até cinco desenhos por dia, e alguns são muito divulgados, visualizados. Alguns chegaram a quase 20 milhões de visualizações. Fiquei bem contente na época. Na época que eu digo faz um ano, dois anos.

Neste meio tive contatos com muitos artistas de renome do humor, stand up, Oscar Filho, Afonso Padilha, este pessoal todo, o Marcos Castro, que é um humorista de standu up.

Ai me convidaram para ir para um grupo fechado no Whatsapp, de trocadinhos, por que meu humor é de trocadilhos, a gente brinca com as palavras. E ai começou uma troca bem legal entre eu e este pessoal. Até hoje estou neste grupo, a gente brinca bastante com os trocadilhos, com palavras, enfim, é um grupo bem seleto, tô muito feliz de estar participando deste grupo. Não passa de 30 humoristas. É uma alegria muito grande todo dia poder estar ali brincando com eles, trocando ideias, informações, mas meu compromisso maior é com o público, este público que não é famoso, este que vem todo dia no Direct me falar que meu humor ajuda eles em muitas coisas, na área da saúde, na questão de depressão. Muita gente vem agradecer, dizer que os desenhos fazem bem, que só entra m no Instagram por conta da página.

Alguns depoimentos bem emocionantes, de mães, até teve uma mãe que perdeu um filho, e o filho mandava todos os dias os meus memes para ela, e ela ficou tão tocada que veio falar comigo. E eu fiquei uma semana pensando sobre isto, refletindo sobre o que a arte faz para as pessoas. A arte e o humor, o humor e a arte. Fazer humor é fazer arte. Fazer rir é muito difícil. Eu tenho uma facilidade porque eu peguei uma veia, que é a veia do trocadilho, O trocadilho causa nas pessoas uma certa estranheza. Você desmembra uma palavra, você brinca com ela. Isto deu muito certo. E a página Memes Draw é uma das únicas que fazem isto no país.”

Ângelo Rodrigues nasceu em Ponte Serrada, passou parte de sua infância em Campina Redonda, um vilarejo localizado no interior do município de Vargem Bonita. A música estava cravada no seio familiar, fazendo parte da sua rotina e regava as costumeiras celebrações onde todos se reuniam para festejar a alegria de se viver, e a euforia corria solta com o avô tocando acordeon, enquanto o pai e os tios faziam vibrar as cordas de seus violões.

O pai, seu grande incentivador para seguir na carreira musical, integrava uma banda de música gauchesca que animava os bailes que aconteciam na comunidade, e costumava levar o menino Ângelo, então com 5 anos de idade, para acompanhar seus ensaios.

Uma oportunidade tentadora de um novo emprego para seu pai saiu do coração de Rondônia, atravessou parte do solo brasileiro e bateu na porta da sua casa. Um amigo caminhoneiro que seguia o mesmo destino empilhou todos os móveis e utensílios com a carga, acomodou a família na boleia do caminhão, e pegaram a estrada rumo a Ji-Paraná.

Sem conseguir se adaptar em terreno tão longe daquele em que rebentou do ventre materno, um ano depois empreendeu uma viagem de retorno, mas agora para fincar suas raízes junto aos olhares de seus avós na cidade de Joaçaba.

Em um dia aparentemente como um outro qualquer, enquanto se dirigia para uma consulta médica junto com seu avô, fixou seu olhar em um fio abandonado na frente de uma construção no centro da cidade, curvou-se e apanhou aquele simples objeto, mas que aos olhos de uma criança se tornaria um instrumento para uma divertida brincadeira, levou para casa, e durante todo dia fez daquilo sua recreação.

Ao entardecer, com a hora do lazer encerrada e querendo uma novo entretenimento para o próximo dia, dirigiu-se até a lixeira para descartar o objeto e o calor que emanava do fogo da lenha que ardia no fogão entrou em contato com o artefato que carregava, inflamando-o, e uma grande explosão aconteceu, arrancando parte de 3 dedos de sua mão direita. Aquele brinquedo aparentemente inocente era na verdade um estopim de dinamite abandonado de forma irresponsável em um local público.

E este infortúnio quase que deu por encerrada sua carreira como músico que já começava a ser trilhada. Nesta época estava dando os seus primeiros passos, começando a tocar violão e teclado, e ciente de que seguir adiante sem parte de seus dedos seria impossível, deduziu que o caminho que havia decidido seguir teria que pegar outro rumo.

Com uma nova mudança de morada efetuada por seus pais para Nova Ponte, perto de Uberlândia em Minas Gerais, Ângelo então com 12 anos pegou a estrada, e partiu para uma nova guinada em sua vida. Na cidade mineira entrou para um Conservatório Musical e começou a estudar música com ênfase em teclado e após a conclusão dos estudos retornou para o Vale do Rio do Peixe.

De volta a terra onde está radicado, buscou conhecimento sobre arranjos e produção musical, passou a se envolver com músicos e duplas sertanejas, e aos 14 anos começou a tocar em pequenos grupos musicais, comprou um novo teclado, e deu um salto em sua trajetória, tocando em eventos maiores, na praça, e em festivais.

Com 17 anos passou a integrar a Longa-metragem, uma banda de pop rock que conquistou uma boa reputação em toda a região se apresentando na abertura de grandes shows, e aos 21 anos juntou-se a um grupo de baile e de dança de salão que embalava com muitos ritmos as noites de muitas pessoas que após o cansaço de uma semana trabalhando buscavam uma forma de extravasar, e assim foi se firmando como um músico conhecido. Tocou também em grupos de jovens, e em retiros, ajudando na parte espiritual na pastoral da juventude.

Aos 23 anos, entrou no Centro Social Marista (Cesmar) em Joaçaba, exercendo a função de educador e animador vocacional, e foi então que descobriu que possuía o dom para compor músicas que tivessem uma função mais ampla do que a sonoridade. Criou brincadeiras musicais, e isto foi um divisor de águas, pois acabava de nascer o compositor Ângelo Rodrigues, que já não era mais só o músico da noite, era músico das crianças também.

Após sair do Cesmar partiu para produção musical em estúdios, elaborando arranjos e gravando cds. Trabalhou com o renomado e saudoso músico Roberto Garajo, e também em parceria com outros músicos e com alguns estúdios.

Abriu uma empresa de designer gráfico, mas por falta de resultados financeiros acabou encerrando as atividades. E foi neste momento difícil que surgiu em seu caminho, que encontrou o Grupo Teatral Reminiscências. Conheceu primeiramente o ator Fábio Libardi enquanto desenvolvia ações de marketing na rua, e a partir de então, brotou uma parceria com o trio, que se mantém até hoje.

“Para mim era tudo muito novo, porque teatro eu só via. Nunca tinha visto um grupo de teatro, e eles são fantásticos, o trabalho deles é incrível. Eles se doam, são viscerais. Fazem isto com muito amor, com muita paixão. E aquilo me inspirou. Poxa, também posso trabalhar com isto, também posso ganhar dinheiro com isto. Ai a gente foi fazendo parcerias, eles tinham os espetáculos deles, e começaram a incluir a minha participação como músico. Então, como eu tinha formação do Marista, eu fazia música e fazia uma palestra, um encontro formativo. Por exemplo eles iam fazer sobre o mês da prevenção do suicídio, lá do Setembro Amarelo, e eu ia lá fazer um encontro, falar sobre, de uma forma mais delicada. E ia cantar, ia brincar, a mesma coisa que eu fazia no Marista. Então aquilo foi fluindo desta forma, e esta parceria foi ficando mais forte. Até que veio uma demanda do mês de maio, o mês do Dia do Combate ao Abuso Infantil, e foi montado o espetáculo,  e eu já estava passando de músico para ator, então comecei a participar com eles como ator no espetáculo. Um espetáculo bem bonito, lindo, fala sobre um jardim, e eu faço o papel do jardineiro, faz uma alegoria entre as flores, o cuidado com a flor, e o cuidado com as crianças. É muito legal, é lindo, tem uma demanda altíssima. A gente ainda faz este espetáculo, e eu ainda sou parceiro deles.”

Músicas Infantis: “Quando há encontro com crianças, encontro infantil, eu sou contratado para fazer esta parte musical com brincadeiras. Eu tenho músicas compostas, minhas mesmo, que eu ainda quero gravar, é um projeto, e brincadeiras musicais que eu criei, e algumas músicas infantis de domínio público, que eu dei uma adaptada. e quero colocar no cd, Com mais tempo, porque quero uma coisa com qualidade, e exige investimento, que eu ainda não tenho.”

Designer Gráfico: ”Eu sempre desenhei, fazia ilustrações em casa, pra mim mesmo. Fiz um curso de criação gráfica que me ajudou bastante na parte técnica. Por que eu não sabia de programas para desenhar, desenhava na mão, fazia uns desenhos bem toscos por conta deste problema na mão que eu tenho, na época era difícil. Até pra segurar um lápis ou uma caneta na mão. Sofro com isto.

Dai fiz um curso de criação gráfica antes de 2005. Sempre tive isto em paralelo, o desenho, eu sempre gostei muito de humor, sempre acompanhei tirinhas, mas minhas tirinhas não eram convencionais, não eram tirinhas bonitinhas, fofinhas. Eu sempre gostei de fazer isto, mas nunca pensei em desenhar no computador, eu já desenhava no CorelDraw, e passei a usar o mouse, e comecei fazendo uns desenhos e umas tirinhas….

Também produzo quadros por encomenda.”

Para conhecer mais sobre o Memes Draw, acesse a página no Instagram: @memesdrawoficial e no facebook: https://www.facebook.com/memesdraw

Cultura em Cena é uma coluna escrita pelo produtor cultural Omar Dimbarre, para destacar o que se faz no meio cultural da região. 

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