Por que vacinar crianças contra Covid? 5 perguntas e respostas sobre o tema

Segurança do imunizante, diferenças na composição e importância da vacina para as crianças são esclarecidas.

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Davi Seremramiwe, de  8 anos, é indígena e tem deficiência motora. Foi a primeira criança a ser imunizada contra a Covid-19 no Brasil
Davi Seremramiwe, de 8 anos, é indígena e tem deficiência motora. Foi a primeira criança a ser imunizada contra a Covid-19 no Brasil

A vacinação de crianças contra a Covid-19 começou nesta sexta-feira (14) no Brasil. Em SC, a imunização inicia neste sábado (15). Com a demora no início da campanha, muitas dúvidas surgiram sobre a segurança dos imunizantes e as diferenças da vacinação dos outros grupos e das crianças entre cinco e 11 anos.

Depois da aprovação da Anvisa, que ocorreu ainda em dezembro, o imunizante pediátrico da Pfizer será aplicado primeiramente nos grupos prioritários — ou seja, crianças com deficiência permanente, com comorbidades, indígenas, quilombolas e crianças vivendo em abrigos e em lares com pessoas do grupo de risco para a Covid.

Só depois é que vem o público geral.

Para tirar todas as dúvidas sobre a vacinação de crianças contra a Covid, o Diário Catarinense pediu aos leitores que enviassem questões por meio das redes sociais do jornal e esclareceu as dúvidas com a epidemiologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Observatório Covid-19 BR, Alexandra Boing. Confira trechos da entrevista com a especialista:

A vacina da Covid para crianças é segura?

Alexandra Boing — Os pais e responsáveis podem ficar tranquilos, porque a vacina é segura e eficaz. Todos os testes foram realizados, o rigor científico foi mantido, nenhuma etapa foi pulada e os resultados foram analisados por inúmeras agências [de regulação] no mundo inteiro. O estudo [com crianças] indicou que além da eficácia do imunizante, também temos segurança.

E um resultado extremamente importante além do estudo, é que nós já temos milhões de crianças vacinadas no mundo e sem eventos adversos significativos até o momento. Existe toda uma preocupação com relação à questão da miocardite, que vem sendo colocada muito nos grupos de WhatsApp, mas o risco de se ter uma miocardite — que é um evento raro por vacinação — é muito menor do que o risco de miocardite, por exemplo, pela Covid-19.

Por que estamos vacinando crianças agora, sendo que não falávamos sobre isso no ano passado?

As vacinas foram primeiramente desenvolvidas para os adultos idosos, pois esse grupo era o que tinha o maior risco para o agravamento e para o óbito, mas conforme a pandemia foi avançando já se observou a necessidade do desenvolvimento de vacinas para os adolescentes e crianças. Então, já se tinha uma necessidade para o desenvolvimento de vacinas para este grupo e isso é importante para poder aumentar a imunidade coletiva e proteger essas crianças.

Para se ter uma ideia, os estudos com voluntários já iniciaram no primeiro semestre de 2021. Ou seja, em 2021 vários países já vacinavam crianças, inclusive a partir de três anos de idade, dois anos de idade. E algumas farmacêuticas já estão desenvolvendo vacinas para as crianças ainda menores, a partir de seis meses de idade.

Se temos poucos casos, por que devemos vacinar crianças contra a Covid?

Isso acontece quando as crianças são comparadas aos adultos, mas essa carga da Covid em crianças no Brasil é alta. Não podemos continuar negligenciando, precisamos parar um pouco com esse mito que a criança não adoece, que a criança não morre de Covid. Temos muitos casos de crianças [com Covid], temos mortes de crianças por Covid-19.

Para se ter uma dimensão, o Brasil é o segundo país com o maior número de mortes de crianças e adolescentes [por Covid]. Em 2021, a Covid-19 matou quase duas vezes mais do que todas as doenças que são preveníveis, todas essas doenças somadas. Também não podemos esquecer que a Covid-19 não é uma questão binária: você ter ou não ter, você viver, sobreviver. Há uma carga envolvida, o risco da síndrome inflamatória multissistêmica, a questão da Covid longa, são repercussões para a vida da criança que podem trazer um impacto importante.

Precisamos parar um pouco com esse mito que a criança não adoece, que a criança não morre de Covid."

Além disso, ao aumentar o número de vacinados, além dessa proteção direta da vacina para as crianças, temos um aumento na redução da taxa de transmissão do vírus, o que diminui a oportunidade de surgimento de novas variantes, aumentando a imunidade coletiva. Dessa forma, a vacinação nessa faixa-etária acaba tendo um efeito de proteção em toda a população.

Qual é a diferença da vacina dada para adultos e adolescentes (maiores de 12 anos) para a vacina das crianças (entre 5 e 11 anos)?

No caso da vacina da Pfizer para as crianças, a dosagem e a composição são diferentes da utilizada para os maiores de 12 anos. Essa diferença também está na quantidade de doses por frasco de vacina, no tempo de armazenamento desse imunizante e também em relação ao próprio frasco.

Em relação à dosagem, as crianças de cinco a 11 anos vão receber 0,2 ml, o que acaba equivalendo a 10 microgramas, um terço da dose que hoje é administrada na população de 12 anos ou mais. Outra diferença é que o frasco da vacina das crianças comporta dez doses, mais do que as doses que tem no outro frasco. O tempo de armazenamento também muda. Enquanto para os mais velhos o imunizante pode ficar na geladeira entre 2 a 8º C durante um mês, para os menores é permitido que fique até 10 semanas.

E existe também uma diferença na cor da tampa, que é laranja. Mesmo que pareça só uma mudança simples, ela é importante para facilitar a identificação pelas equipes de vacinação e também pelos responsáveis que vão acompanhar essas crianças, para que não tenhamos erros de dosagem.

Existe a possibilidade de vacinarmos menores de cinco anos contra a Covid?

Vários países já vacinam crianças a partir de dois ou três anos de idade. Temos a vacina da Sinopharma, da Sinovac, que já é utilizada a partir de três anos. Essas vacinas são utilizadas no Chile e na Argentina. Em Cuba, já se vacina crianças a partir de dois anos de idade com a vacina Soberana. E os laboratórios estão desenvolvendo vacinas para as faixas etárias ainda menores.

A Pfizer iniciou estudo ano passado com bebês a partir de seis meses e existe uma previsão de resultados para as crianças a partir de dois a quatro anos, uma divulgação desses resultados, até abril deste ano. A Moderna também iniciou estudos com bebês a partir de seis meses. Isso vamos acompanhando nos próximos meses, a incorporação dessas outras faixas-etárias, que não estão cobertas atualmente, o que é muito importante, porque é mais uma ferramenta para o enfrentamento da pandemia.


Fonte:

DC

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