Quem foi Frei Bruno

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FREI BRUNO LINDEN (1876 - 1960)

TRAÇOS MARCANTES DO GENUÍNO FRADE MENOR * Duesseldorf, Alemanha, 08/09/1876 † Joaçaba, SC, 25/02/1960 Por Frei Elzeário Schmitt Poucos são, de certo, os confrades da época que não chegaram a conhecer Frei Bruno. Quem o conheceu concordará comigo que sua personalidade foi uma reprodução fidelíssima das páginas mais inspiradoras dos "Fioretti". Simples, pobre, humilde, zeloso, e caridoso em grau impressionante, retratando de maneira fiel os traços mais marcantes de genuíno frade menor segundo o modo de São Francisco. Falando em Frei Bruno, não cabem palavras difíceis. Nem pretendo expor todas as minúcias tão simpáticas quão edificantes de sua abençoada carreira. Dou, apenas, em rápidos e leves traços, os dados importantes do seu "curriculum vitae" (fornecidos pelo Provincialado), para logo em seguida condensar a impressão que ele nos deixou nestes últimos anos de íntimo convívio na residência dos frades de Joaçaba. O Noviciado no navio Filho de Humberto Linden e Cecília Goelden, nasceu Humberto Linden Jr. (mais tarde Frei Bruno) em Duesseldorf, na Alemanha, a 8 de setembro de 1876. Com quase 18 anos de idade, ingressou no Noviciado dos Franciscanos da Saxônia, em Harreveld, na Holanda. Tomou hábito em 13 de maio de 1894. O famoso padre-mestre Frei Osmundo Laumann deixou-lhe lembrança indelével nas poucas semanas que passou debaixo de sua tutela. Nem bem chegaram ao Noviciado, foram destinados para a "Missão Brasileira", estando entre eles Frei Bruno. Trocaram o convento por um navio transatlântico que os levou à Bahia. Aportaram em Salvador aos 12 de julho de 1894. Em terras baianas, Frei Bruno completou o Noviciado, saiu-se ileso da febre amarela, estudou Filosofia e Teologia e fez profissão solene no dia 19 de maio de 1898. Em seguida, ao virar o século, foi enviado para Petrópolis, onde foi ordenado sacerdote em 10 de maio de 1901 e aprovado para a cura d'almas em fins do mesmo ano. O jovem padre permaneceu ainda mais dois anos em Petrópolis. Em 1904 foi transferido para Gaspar, primeiro como superior e pároco até 1906, continuando no mesmo lugar mais três anos como coadjutor. A próxima transferência levou-o a São José, na modesta função de coadjutor e bibliotecário; mais tarde, isto é, desde 1914, como vigário da paróquia. Em 1917, tocou-lhe a incumbência de superior e vigário na residência riograndense de Não-Me-Toque. Entre 1926 e 1945 teve uma prolongada estadia em Rodeio, convento do Noviciado, onde quase todo o tempo era guardião e vigário, enquanto o permitiam as constituições e intercalados os devidos interstícios de vacância de cargos. Durante quase 20 anos edificou sem cessar o povo de fora e os religiosos de dentro com seu exemplo de autêntico frade menor e arauto de Cristo. Este período mereceria um artigo à parte de quem com ele conviveu por mais tempo. Basta dizer aqui que dificilmente as instruções do Pe. Mestre aos noviços encontrariam ilustração concreta e exemplo vivo mais imponente que na pessoa do santo Frei Bruno. A última morada terrestre O Capítulo Provincial de 1945 destacou-o de Rodeio para Esteves Júnior. Lá permaneceu só poucos meses, pois no fim do mesmo ano foi designado superior e pároco de Xaxim. Completou dois triênios à frente da casa, continuando no mesmo lugar como coadjutor até 1956. Octogenário, acabado e encarquilhado foi parar em Joaçaba, sua última morada terrestre. Depois do Capítulo Provincial de 1956, a conselho do ministro provincial, Frei Bruno foi para Luzerna a fim de passar uma temporada de repouso, ou, como ele mesmo entendia, preparar-se para a morte. Não era para menos. A velhice, as forças gastas e o corpo alquebrado pressagiaram o fim da jornada. Duas hérnias e, por conseguinte, duas cintas davam-lhe bastante que fazer e sofrer. Todavia pensava também em trabalhar, em continuar suas caminhadas para espalhar o bem a todos. Em pouco tempo escasseou o serviço em Luzerna e, a pedido dos confrades, foi passar uns dias em Joaçaba, onde descobriu novas oportunidades de apostolado. Voltou a Luzerna sem dizer nada, mas quatro dias depois apareceu outra vez em Joaçaba, disposto a ficar. Era o dia 2 de fevereiro de 1956. A volta de Frei Bruno foi naturalmente uma grande alegria para nossa pequena comunidade. Todos nós apreciávamos a graça de ter um santo em casa, e um santo que trabalha sem dar trabalho. Os últimos quatro anos em Joaçaba não foram mais do que a continuação de um apostolado que Frei Bruno vinha praticando há muitos anos. Quem conheceu Frei Bruno sabe de sua predileção irresistível por longas e continuadas caminhadas "pedibus apostolorum". De fato, de manhã à noite, mantinha-se em movimento. Brincando com ele, chamamo-lo muitas vezes de cigano sem paradeiro nem sossego. Caminhava, visitando as famílias, benzendo as casas, descobrindo uniões a legalizar, consertando lares em desarmonia, visitando os doentes, sempre no mesmo ritmo incansável, morro-acima e morro-abaixo. Subindo pelas ladeiras, costumava andar em ziguezague a fim de aliviar o velho coração. Nos primeiros meses ainda visitava as capelas de Santa Helena e de Nossa Senhora da Saúde, capelas por onde passa a linha de ônibus. Mais tarde, notando a nossa preocupação, desistiu espontaneamente. Em seguida ocupou o cargo de capelão do Ginásio Frei Rogério, a cargo dos Irmãos Maristas. Atendia às confissões dos irmãos e juvenistas. Terminada a santa missa, Frei Bruno dava as suas voltas, chegando à casa um pouco antes do meio-dia, quase sempre a pé, empunhando o guarda-chuva, seu fiel e inseparável companheiro. Depois do almoço "descansava" na igreja, apoiando a cabeça na mesa do altar de Nossa Senhora, rezando, ou, então na salinha da portaria, onde atendia às pessoas que o procuravam ou que ele havia chamado. Interessou-se pelos detidos. "Pe. Praeses, será que posso pedir dinheiro a algumas pessoas para comprar uma bola"? - "Para quê"? - "Para os presos". E lá vai ele: pede o dinheiro, compra a bola e a leva à cadeia, arrancando ainda do delegado a licença para os coitados jogarem futebol no pátio do presídio. "Pe. Praeses, posso tirar tintas para os presos pintarem a cadeia que está imunda"? "Pe. Praeses, na cadeia não tem luz. Posso levar uns maços de velas"? Também tinha sempre em volta de si um grupo de crianças pobres, às quais dava a doutrina e às vezes também pão e outros petiscos que depois faziam falta à mesa. Frei Bruno cuidava da água benta e conservava uma talha sempre cheia na igreja, ao lado do batistério. Aos sábados, vindo os pobres para receber os mantimentos, iam beber a água benta de Frei Bruno que não gostava desse modo de matar a sede. Porém, dizia: "Paciência! As criancinhas, coitadas, estão com sede". Frei Bruno, pedestre convicto, não se entusiasmava pelos meios de transporte modernos. "Frei Bruno, não gostaria de dar um passeio de avião"? - Não, não, não! Imagine o que vai acontecer se faltar um parafuso"! Os dias iam passando. O Ginásio Frei Rogério recebeu novo capelão, e Frei Bruno foi aposentado. Estava na hora. Pois caminhar se lhe tornava mais custoso e também a vista ia enfraquecendo casa vez mais. A partir de 1958, Frei Bruno celebrava sua santa missa às 5h30 no altar de Nossa Senhora. Aí, ele dava a comunhão às pessoas que madrugavam. Após a missa, no confessionário, era sempre procurado. O confessionário de Frei Bruno era uma armação muito simples com grade, de um lado a cadeira de confessor, do outro lado o banquinho de ajoelhar para o penitente. Terminando com as confissões, Frei Bruno costumava ajoelhar-se naquele banquinho. Volumosa era a correspondência que Frei Bruno recebia. Uns pediam uma bênção, outros a saúde para um doente, ouros ainda sorte nos negócios ou bênção contra ratos no paiol ou contra os bichos na roça. A princípio, Frei Bruno respondia religiosamente a todas estas cartas, mas à medida que se lhe ia enfraquecendo a vista, ia desistindo da correspondência. Em 3 de julho de 1959 celebrou pela última vez a santa missa. A partir daquele dia comungava às 5h30, e depois ia ao confessionário. Já não saia mais à rua, mas continuava as audiências na salinha da portaria que, por brincadeira, apelidávamos de "conclave". Em 25 de outubro, na companhia de Frei Serafim, Frei Bruno deu o último passeio a Luzerna, a fim de tratar de assuntos da Pia União de Missas de Ingolstadt. Tanto em Luzerna como em Joaçaba, Frei Bruno exercia um belo apostolado em prol da dita União de Missas. Em 20 de novembro, voltando da cidade, encontrei Frei Bruno na sala da portaria, desmaiado, pálido e frio. Eu estava certo de que a morte afinal viera buscá-lo. Levamo-lo à cela, e deitamo-lo na cama. Imediatamente veio o médico prestando a assistência indicada. Já ao meio-dia, nosso doente estava de pé, meio tonto ainda, mas animado. A partir daquela dia, Frei Bruno andava muito preocupado com a morte. Em curto prazo, por duas vezes recebeu a Extrema-Unção. Entrando em 1960, ouvíamos diariamente a mesma ladainha: "Hoje vou morrer". Chamava o viático sua comunhão diária. Até deixava de se alimentar convenientemente e foi preciso, em nome da santa obediência, obrigá-lo a comer. Aí se normalizou a situação, pois Frei Bruno dizia sempre: "Quem não obedece aos superiores vai para o inferno"! A obediência cega do santo confrade deu também fim a uns tantos escrúpulos e complexos de consciência. As sandálias lhe ficavam pesando muito e Frei Bruno calçou uns chinelos leves e caminhava que nem velho colono italiano. Achou pesado o rosário das sete alegrias e pediu licença para usar um rosário pequeno no cordão do hábito. Entretanto dias depois apareceu outra vez com a grande coroa, dizendo: "Acho que é uma ofensa a Nossa Senhora andar sem o rosário". No último mês teve que usar bengala para caminhar. Até o último dia atendeu as confissões e deu audiência na sua salinha. A morte de Frei Bruno paralisa a cidade No dia 25 de fevereiro, voltando do colégio das Irmãs, não encontrando Frei Bruno nem na sacristia, nem na portaria, nem no refeitório, foi ao quarto dele onde o encontrei morto. Segundo o médico, que veio depois, a morte devia ter ocorrido umas duas horas antes. Rapidamente se espalhou a notícia do falecimento. Escusado dizer que a consternação foi geral. As duas emissoras de Joaçaba, a todo o momento, repetiam a triste nova, dando também notícias biográficas acerca do confrade. Ao meio-dia, o corpo foi colocado na igreja e velado sem interrupção até o dia seguinte. Veio muita gente, e houve muitas lágrimas. Dia 26 de fevereiro, o comércio e a indústria fecharam em sinal de luto. Às 8 horas houve missa de corpo presente. A espaçosa matriz mostrou-se pequena para acolher tanta gente. Vieram para as exéquias os confrades de Luzerna, Jaborá, e Xaxim. No enterro contaram-se 120 carros. Foi o maior enterro que já houve em Joaçaba. No dia seguinte, em sessão da Câmara Municipal, os vereadores lançaram em ata um voto unânime de pesar pela morte de Frei Bruno e, em sinal de luto, suspenderam em seguida os trabalhos. Os motoristas de Joaçaba renderam homenagem particular à memória de Frei Bruno, organizando um grande cortejo, rumando, de noite, à matriz onde todos, ajoelhados na escadaria da Igreja rezaram pela alma de Frei Bruno, e em seguida prosseguiram na sua peregrinação. Já se preparava campanha pela praça e monumento de Frei Bruno em Joaçaba.

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